Em Itu, a calamidade é pública mesmo!

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http://chadelimadapersia.blogspot.com.br/2013/05/esculturas-que-enfeitam-as-cidades.html
Itu – 30/08 – As medidas adotadas pelo prefeito de Itu, António Luiz Carvalho Gomes, conhecido por António Tuíze (PSD), e pela empresa Águas de Itu, não foram capazes de levar água às torneiras das moradias ituanas. O racionamento “planejado” pela empresa, no qual ela se compromete a fornecer água em dias alternados, continua a ser uma promessa vazia e um atestado de incapacidade destes gestores.
Desde o fim de semana passado (22/08), um desfile de caminhões pipa, vindos dos municípios vizinhos (que também sofrem com estiagem e com racionamento de água) percorrem as ruas da cidade rumo à caixa d’água municipal. Eles deveriam enchê-la e proporcionar água nas torneiras da população. Não foi isso que aconteceu. Grande parte da cidade ainda sofre com a falta de água.
Mas graças à “criatividade” do Sr. Prefeito e dos dirigentes da Águas de Itu, um ramo de negócios está em franca expansão: o fornecimento privado de água, por caminhões pipa. O preço do fornecimento para residências passou de R$ 150,00/R$ 200,00, em junho, para R$ 300,00/R$ 450,00 atualmente.
O desfile dos caminhões pipas pela cidade é um atestado de que o Sr. Prefeito e os dirigentes da Águas de Itu estão mais preocupados com os negócios do que com a obrigação constitucional de fornecer água para os cidadãos, obrigação acentuada pelo Ministério Público, que já exigiu do Sr. Prefeito a decretação do estado de calamidade pública no município. No entanto, o Sr. Prefeito considerou a exigência exagerada!
E, assim, continuamos a viver uma situação de calamidade que as autoridades se negam a reconhecer e a enfrentar com medidas eficazes.
(Verônica Bercht)

A biografia de Elza Monnerat ganha uma segunda edição


Acaba de sair a segunda edição de "Coração Vermelho, a vida de Elza Monnerat". Uma edição caprichada, com prefácio de Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e posfácio de Priscila Lobregatte, jornalista e pesquisadora.

Título: Coração Vermelho, a vida de Elza Monnerat
Autora: Verônica Bercht
Edição: 2ª
Ano: 2013
Editora: Anita Garibaldi/Fundação Mauíicio Grabois 

Para comprar: www.anitagaribaldi.com.br ou   (11) 3129-3438 

23/11/2013


Bienal do Livro de São Paulo: linguiça no feijão dos obesos?

Ênio Silveira, grande figura do mundo editorial, ao ser entrevistado em 1990 para a coleção Editando o Editor da Com-Arte e Edusp, lembrou-se da caracterização do dilema vivido por todo bom editor feita por Orígenes Lessa no livro O Feijão e o Sonho, dizendo assim: “Se ele se dedica só ao feijão, ele não é bom editor. E se ele se dedica só ao sonho, ele quebra a cara muito rapidamente, numa sociedade capitalista ele está fadado ao insucesso. O contraponto feijão/sonho é que dá a justa medida da qualidade de um editor”.
Ênio Silveira (1925 - 1996)

Nessa entrevista, Ênio, que levava às costas mais de quarenta anos de atuação no mercado editorial, inicialmente na Editora Nacional e depois à frente da Civilização Brasileira, conta que naquele tempo bons editores também publicavam livros com apelo de mercado, com os quais financiavam os fracassos de vendas (muitas vezes, em títulos de autores desconhecidos) e as obras de boa literatura e ensaios, cujo público consumidor era, e continua sendo, menor. E que, embora essas publicações viabilizassem economicamente uma boa editora, sua existência se justificava e se pautava por um sonho: o de interferir no mundo das ideias, provocando reflexões sobre os vários aspectos da sociedade. Assim atuavam desde as religiosas, como a Editora Vozes, até as de esquerda, como a Civilização Brasileira.
 Ênio se refere a um tempo no Brasil em que as editoras – grandes ou pequenas - eram empresas familiares, geridas e administradas por uma equipe escolhida e comandada por um único chefe – o dono da empresa. Era ele, em última instância, que aprovava o desempenho econômico da empresa e o balanço entre o sonho e o feijão que almejava.
Nas últimas décadas, a reboque dos preceitos do neoliberalismo, da globalização e do aprofundamento da lógica do mercado, o cenário editorial começou a mudar com o fortalecimento do modelo empresarial que domina há tempos vários outros setores da economia. E, atualmente, grandes conglomerados empresariais orientam o mundo dos livros. São Sociedades Anônimas – grupos empresariais que contam com o aporte de capital de acionistas para o desenvolvimento e manutenção de suas atividades, e que, em contrapartida, dividem seus lucros com eles. Aos acionistas não importa os meios, desde que lícitos, que a empresa utiliza para ganhar dinheiro. Eles investem dinheiro apenas para vê-lo aumentar. As editoras que pertencem a esses grupos podem ser empresas de capital limitado, mas mesmo assim estão submetidas ao crivo econômico dos acionistas que apostam nas suas controladoras. 
Ao contrário do que podia ocorrer no modelo de gestão familiar, atualmente a existência da empresa se justifica e se pauta apenas pela busca ao “feijão”. E, embora essas empresas mantenham selos de qualidade, eles estão ali apenas para lhes garantir alguma credibilidade como empresas de interesse cultural, além, é claro, de proporcionar alguns ganhos no nicho de mercado de consumidores mais exigentes.
O que interessa aos grandes conglomerados editoriais são os livros de grande vendagem, entre eles os best sellers. O lançamento desses livros é minuciosamente planejado para seduzir o comprador e conta com o apoio da mídia impressa e televisiva, muitas vezes sob controle do mesmo grupo que controla a editora. 
Esse modelo gera uma competição completamente desigual e o que se vê é algumas editoras médias e pequenas optando por traduzir best sellers lançados por gigantes estrangeiras ou por se associarem entre si em pequenos aglomerados editoriais, com selos dedicados a ganhar migalhas no rastro do marketing e publicidade das gigantes, lançando livros tão semelhantes aos delas que chegam a ter capas que podem confundir o consumidor desprevenido, afoito pelo livro da moda.
O formato atual da Bienal está de acordo com esse modelo. A Câmara Brasileira do Livro, organizadora do evento, é uma entidade que pretende representar editoras de todos os tamanhos. Mas, ao se deixar levar pelo modelo em voga, reforça, por um lado, a atuação dos grandes grupos deixando as pequenas e médias editoras à sua própria sorte e, por outro lado, perde a oportunidade de colocar o público jovem em contato com outro tipo de literatura além da que ele já é assediado por amplas campanhas publicitárias. O evento torna-se um promotor de vendas daquilo que já é amplamente vendido. É a linguiça que faltava no feijão dos obesos.

Verônica Bercht
27/08/2012

Ariano Suassuna, sertanejo e clássico

João Grilo vendeu para a mulher do padeiro, infiel e avarenta, “um gato maravilhoso, que descome dinheiro". Depois, munido de uma gaita que fecha o corpo e ressuscita os mortos (“benzida pelo Padre Cícero, pouco antes de morrer”) convence o cangaceiro ameaçador a visitar o Padim, já falecido: "Seu cabra lhe dá um tiro de rifle, você vai visitá-lo. Então eu toco na gaita e você volta". E o cangaceiro cai nessa... João Grilo também manifesta um senso de justiça agudo ao ser julgado pelo Diabo: "Sai daí, pai da mentira! Sempre ouvi dizer que para se condenar uma pessoa ela tem de ser ouvida!"

João Grilo não é senão a imagem do sertanejo esperto, astuto, mestre nas artimanhas da sobrevivência. Personagem central de uma das principais obras de Ariano Suassuna, o Auto da Compadecida (1955) que, por si, justifica todas as homenagens ao grande escritor cujos escritos manifestam os traços marcantes daquilo que constitui um clássico: o popular e o erudito andam de mãos dadas numa obra em que o caráter “culto” nada mais é do que a expressão da alma brasileira em formato artístico.

Expressão culta registrada num sem número de personagens e peripécias que parecem saltar direto da literatura de cordel e de cantadores das feiras do sertão para páginas e palcos, passando a figurar num patamar mais permanente na literatura.

Capa da 9ª edição, de 2007.
É o caso, por exemplo, de outro personagem, Dom Pedro Dinis Ferreira Quaderna, do Romance d’A Pedra do Reino (1971), mais um pícaro de visível formação sertaneja cujas aventuras retratam o clima das tramas e também do sentimento sertanejos, com seu sebastianismo à flor da pele e suas reminiscências dos tempos do imperador e das revoltas do sertão.

É um lugar comum dizer-se que o Nordeste é a última fronteira da Idade Média ibérica. É preciso acrescentar, contudo, que ao longo do tempo o iberismo foi temperado, e diluído, na herança tupi e africana, o catolicismo foi amolecido por orixás e entidades pagãs, o mistério dos céus trazido à Terra tingido pelas cores das lutas do homem do sertão.

Este festival de cores, sentimentos e tradições vai agora ser proposto para avaliação à Academia Sueca que, todo ano, unge o escritor que passa a ser cultuado em todo o planeta. Em português isto ocorreu apenas uma vez, em 1998, quando José Saramago foi agraciado pelo Nobel de literatura.

O cavaleiro diabólico que apareceu a Lino Pedra-Verde
Uma das ilustrações do Romance d'APedra do Reino,
 feitas por Ariano Suassuna.
Este ano, Ariano Suassuna vai estar no páreo: a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado vai avaliar requerimento do senador Cássio Cunha indicando seu nome para o Nobel de Literatura, com relatoria do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). Sua obra - esta é a justificação - traduz tipos e o espírito brasileiros, transpondo limitações de tempo, lugar e de gerações. Não podia ser diferente!

Algumas obras de Ariano Suassuna

Teatro
Uma Mulher Vestida de Sol (1947)
Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) (1948)
Auto de João da Cruz (1950)
O Castigo da Soberba (1953)
Auto da Compadecida (1955)
O Casamento Suspeitoso (1957)
O Santo e a Porca, imitação nordestina de Plauto (1957)
A Pena e a Lei (1959)
Farsa da Boa Preguiça (1960)
As Conchambranças de Quaderna, 1987

Ficção
A história do amor de Fernando e Isaura. Romance inédito (1956)
Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971)
História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1977)

Outras obras
O Pasto Incendiado (1945-70). Livro inédito de poemas.
Ode (1955)
Coletânea da Poesia Popular Nordestina (1964)
O Movimento Armorial (1974)
Seleta em Prosa e Verso (1974)
Iniciação à Estética (1975)
A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira (tese de livre-docência, UFPe) (1976)
Sonetos com Mote Alheio (1980)
Poemas (1999)

Por José Carlos Ruy
Fonte: Portal Vermelho.(Acesso em 17/05/2012)

Aziz Ab’Saber, contador de história


     O geógrafo Aziz Ab’Saber nasceu na pequena cidade de São Luís do Paraitinga (SP) em 24 de outubro de 1924 e faleceu dia 16 de março de 2012, em São Paulo. Era professor honorário do Instituto de Estudos Avançados e professor emérito da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, ambos da Universidade de São Paulo, e membro da Academia Brasileira de Ciências.
     Era um gigante. Um cientista que não perdia a perspectiva política do conhecimento e um professor, que como tal, preocupava-se em professar suas idéias para as mais variadas platéias.
    Mas era também um contador de histórias. Histórias cujo tema é pouco comum - a história da Terra.
   Ele contava, para platéias vidradas, como os movimentos geológicos, as mudanças climáticas e a ocupação dos seres vivos conformaram o território que hoje chamamos de Brasil. Para uma audiência menor, uma conversa em sua sala, ele escolhia ora uma ora outra entre as muitas fotografias de satélite que tomavam uma enorme mesa, e falava daquela pequena porção desse imenso país. “Lia” as cores da foto como se fosse um texto e contava, mostrando os detalhes de colorações vibrantes, como os movimentos das rochas e as geleiras dos glaciais de milhares de anos atrás influenciam as atividades e a vida das pessoas nos dias de hoje ou como, nos interglaciais, toneladas de areia dos planaltos foram levados pelas águas formando os nossos pantanais. Indicava os tipos de solo, vegetação, usos da terra como quem lê a pauta de uma música. Uma música contínua da qual fazemos parte.
     Um pouco desse contador da história da Terra, junto com o cientista, o político, a pessoa, enfim o brasileiro que era, ficou registrado na entrevista realizada em 1992 pelo programa Roda Viva da TV Cultura,  postado a seguir.